Imi Lichtenfeld

Filho de Channa e Samuel Lichtenfeld, Imrich Sde-Or ou “Imi” como era conhecido, nasceu em 26 de maio de 1910, em Budapeste, um dos centros do Império Austro-húngaro, mas cresceu na capital da Eslováquia, Bratislava.

Seu pai um grande atleta, teve suma influência em sua vida. Aos 13 anos, Samuel começou a trabalhar num circo como acrobata. Durante duas décadas, treinou inúmeros esportes, inclusive luta-livre e levantamento de pesos. Após deixar o circo, se mudou para Bratislava. Lá fundou a primeira academia moderna de atividade física, onde se dedicava à luta livre, boxe e musculação.

Samuel trabalhava na força policial em Bratislava e tornou-se detetive, ocupando o posto de Inspetor Chefe. Conquistou a reputação, fazendo a prisão e levando a julgamento muitos criminosos violentos. Como Inspetor Chefe, treinava seus homens nas técnicas de defesa pessoal. Exímio lutador de luta-livre quando jovem, estimulou o filho a participar de uma variedade de atividades atléticas.

Imi logo se tornou um excelente ginasta, boxeador e lutador, entrando para o Time Nacional de Luta Livre da Eslováquia. Competia em campeonatos nacionais e internacionais ganhando vários troféus. No período de 1929 a 1939, foi um dos melhores lutadores da Europa.

No final da década de 1930, enquanto o fascismo e o antissemitismo varriam todo o continente europeu, a vida dos judeus de Bratislava tornava-se cada dia mais difícil. Os ataques violentos passaram a ser comuns nas ruas da Europa Oriental. Os judeus buscavam meios de se defender e de continuar vivos.

Diante da necessidade de proteção a comunidade, Imi organizou um grupo de jovens judeus para patrulhar o bairro e defender seus habitantes contra os ataques. Tornou-se o líder de cerca de 100 rapazes da comunidade. Juntos defendiam os judeus de Bratislava contra as gangues antissemitas e milícias fascistas.

Imi entendeu que as lutas travadas nas ruas eram diferentes das esportivas, pois eram extremamente violentas e não havia regras e nem árbitros. Começou então a desenvolver um sistema de técnicas de autodefesa para situações de perigo, passando a ensiná-las aos jovens do Bairro Judeu. Seu princípio fundamental era usar os movimentos e reações naturais do corpo, aliados a um contra-ataque imediato e decisivo.

Em 1939, o Estado Eslovaco tornou-se fantoche da Alemanha nazista, e os judeus de Bratislava estavam mais ameaçados pelas milícias fascistas. As autoridades eslovacas e grupos antissemitas viam Imi como um “sério problema” que passou a ser vigiado. Em 18 de maio 1940, Imi deixa a Europa embarcando no último navio de judeus a escapar dos nazistas. Infelizmente sua família não o acompanhou e não sobreviveu a Shoah (Holocausto). A embarcação, de nome Pentcho usada para navegação fluvial, foi modificada para transportar refugiados judeus da Europa central e tinha destino à Israel.

Pentcho tinha capacidade para transportar 150 pessoas e durante a travessia levava 500 jovens. Devido a superlotação, houve uma falha na caldeira gerando uma explosão, que levou ao naufrágio do barco na ilha grega Kamilonissi. Imi saltou várias vezes ao mar para salvar os passageiros e recuperar as sacas de alimentos. Isso lhe acarretou a uma forte infecção no ouvido que quase lhe custa a vida.

Com a companhia de quatro amigos, conseguiram um bote a remo e foram em direção à ilha de Creta para buscar ajuda, mas em virtude dos fortes ventos nunca chegaram à ilha. No quinto dia, um navio de guerra inglês os encontrou vagando pelo mar e os levou para Alexandria. Após relatarem sobre o naufrágio do Pentcho, as autoridades italianas foram alertadas e um navio foi enviado para a ilha Kamilonissi para resgatar os refugiados, que foram levados para Rhodes. A maior parte dos sobreviventes do Pentcho chegou à então Palestina em 1944.

Segundo relato de um dos amigos, ao chegarem a Alexandria, o estado do Imi era gravíssimo e temiam que não sobrevivesse a infecção. Ao se recuperar alistou-se na Legião Checa, comandado pelo exército britânico. Durante um ano e meio, ocupou vários postos militares no Oriente Médio, sempre servindo com distinção.

Em 1942, recebeu visto de entrada na Palestina, que estava sob Mandato Britânico. Muitos de seus amigos que já estavam em Eretz-Israel, e serviam na Haganah (defesa, em hebraico), fundada em 1919 para defender os assentamentos judeus contra os árabes, onde Imi seria recebido e notado pelos líderes por suas aptidões em combate e sua habilidade em transmitir as técnicas. Ficou encarregado do treinamento das forças de elite militar no combate desarmado. Treinou forças da Haganah, Palmach (a força de ataque de elite), Palyam (os comandos navais), e grupos policiais.

Com a fundação do Estado de Israel em 1948, todas as forças judaicas combatentes se unem, dando origem às Forças de Defesa de Israel (FDI). O novo estilo de combate criado por Imi é adotado como o oficial. É nomeado Instrutor Chefe na Escola de Preparação para Combates das FDI. Durante este período, aperfeiçoou ainda mais suas técnicas de autodefesa, que buscavam rapidez e eficiência aos cenários modernos. Suas principais características era a simplicidade, lógica e facilidade no aprendizado. Após a Operação Sinai de 1956, o nome “Krav Maga” passou a ser utilizado para o novo estilo de combate, tendo um formato pronto para treinamento e ensino.

Imi serviu as forças armadas até 1964, após se aposentar, abriu dois centros de treinamento nas cidades de Tel-Aviv e Netanya. Pela primeira vez o Krav Maga seria ensinado a civis, com o objetivo de se proteção pessoal. Nos anos seguintes, Imi se dedicou a adaptar as técnicas, modificando-as de acordo com as necessidades da vida civil.

Imi Lichtenfeld faleceu em 1998, aos 87 anos. Até os últimos anos de sua vida, continuou a atuar no mundo militar como conselheiro, e no civil supervisionando aulas, e treinando equipes de segurança de outras nacionalidades.

Em uma carta oficial pelo “Galardão de Mérito”, Itzhak Rabin, então Chefe das Forças de Defesa de Israel, escreveu que desde os tempos da Haganah, Palmach e Tzahal (FDI), a capacidade de luta e o potencial pessoal de Imi, tinham sido os pilares de qualidade do combatente israelense.

Ainda em vida, recebeu o “Azul e branco”, um título de honra para aqueles que muito se dedicaram a seu país.